sábado, 4 de maio de 2013

A ceguinha da rua dos Clérigos

Quando eu era pequena não gostava de vir ao Porto.
Não havia auto-estrada e eu chegava sempre enjoada.
Vir ao Porto era vir ao médico, ao dentista, às lãs, a compras ou à feira do livro.
Lanche incluído, muitas vezes à volta de Carlos Alberto.
Nunca gostei dos éclairs de chantilly da Leitaria da Quinta do Paço de que a tia Mila falava.
Pendurada entre os braços dos meus pais, eu gostava mesmo era da ceguinha da rua dos Clérigos.
Acima da Bombom e abaixo da Vista Alegre, ficava ela, que era redondinha, encaixada num banquinho a entoar o mesmo estribilho.
A bengala era metálica daquelas que desenrolam e enrolam para um tamanho bem maneirinho, mas o que eu gostava mais era do cofre, verde com código e chave, pequeno à sua (nossa) medida.
No fim do lanche tornou-se um hábito surripiar as moedas que os meus pais deixavam de gorjeta, não sei se para proveito próprio, ou simplesmente porque nasci forreta e achava o excesso de dinheiro um despropósito.
À ceguinha da rua dos Clérigos nunca neguei as moedas que lhe depositava fielmente no cofre.

Quem quer deixar uma esmolinha para ajudar a ceguinha?
Quem quer deixar uma esmolinha para ajudar a ceguinha?
Quem quer deixar uma esmolinha para ajudar a ceguinha?

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