terça-feira, 30 de julho de 2013

A um mar conhecido


Doce amor azul e cinzento profundo
Eterno mar que foi espelho de cristal
Para trás ficaram ruínas desse mundo
Memórias do nosso mar original.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sísifo


Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Despersona

Cruella de Ville has left the building
(die suckers)
Madre Teresa has made it to the church
(on her knees)
Lolita impatiently waits for her turn to play
(impatiently biting her lollipop)

A desconstrução

Jogados por terra estão os escombros donde me erguia
estavam errados os tijolos do meu edifício
que era forte mas inflexível

Os olhos da verdade ou do amor
vexaram a minha obra que
envergonhada
se abateu inteira

Mas acredito no poder da reconstrução
que desta vez sejam amplas as minhas janelas
e que se abram de par em par
para que através delas circule o vento

Se puder escolher,
dêem-me vista para o mar.

Sobre as cordas e amarras

No barco da vida

Encontro dificuldades a soltar as amarras
(do orgulho e de todas as ideias preconceituosas)

Por outro lado, estico a corda demasiadas vezes
(do bom senso e da tolerância)

Em busca da condição ideal
procuro um nó firme que não seja frouxo
nem demasiado apertado com risco de asfixia.

À busca do vento de feição
eu acredito que irei zarpar
logo que passe a neblina. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O livro das perguntas

No equilíbrio frágil do amor
demónios interiores
carregam e sopram
nos pratos da balança às escondidas
pondo os sentimentos em desalinho.

Como Neruda, tenho perguntas.
Por que é gorda a ansiedade
e tão delgada a angústia?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

El camino

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.


Antonio Machado