quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Equivalências

Para o Ministerio de Sanidad, Servicios Sociales e Igualdad,
eu não sou Terroso (como o pai) e sim
Ferreira (como a mãe)

Dª Georgina María Ferreira Oliveira
Comeram-me o último.

Troca de apelidos à parte,
consegui.

(no rodapé publicitam,
hospital sin humo)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

XXXI

A quién le puedo preguntar
qué vine hacer en este mundo?

Por qué me muevo sin querer,
por qué no puedo estar inmóvil?

Por qué voy rodando sin ruedas,
volando sin alas ni plumas,

y qué me dio por transmigrar
si viven en Chile mis huesos?

Pablo Neruda, Libro de las preguntas

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cenas familiares

Ou Come a papa, pequeno, come a papa

Quando eu era pequena, detestava comer.
Qualquer coisa que não fosse arroz branco, ovo estrelado ou bife grelhado estava fora do cardápio.
Detestava sopa, claro.
Sobre as cenas de que era capaz para não comer, há histórias lastimáveis a contar:
Longe da censura materna, escondi-me com a minha prima debaixo da mesa num jantar formal sob condição de só voltar ao meu lugar quando me trouxessem ovos.
A minha Mãe teve sempre uma paciência enorme com a minha anorexia:
Levava-me para o quintal, sentava-me junto às árvores e distraía-me com as histórias da formiguinha rabina, com o cão e os gatos.
De guardanapo ao pescoço, eu comia tudo.
Lembro-me perfeitamente da minha Mãe me meter a comida na boca. Já não seria assim tão pequena.
Vergonhoso, eu sei.

No andar de cima,  é a hora da refeição.
Não! Não! Come! Co-mmme! Mastiga! Mastiga! Mastiga!
O miúdo chora baixinho e depois, enervado, vai subindo o tom.

(quando tiver filhos
espero ter um tico da paciência que teve a minha Mãe
para me poupar a dramas destes)

sábado, 13 de outubro de 2012

Desconsolo

Tempo cinzento
o exame que se aproxima
a passos mais largos
que a preguiça
uma virose
a menstruação
nem mesmo o carimbo de qualidade
da produção materna

Serve de consolo
para um fim-de-semana
a roer unhas
a estudar espirrar
a assoar o nariz e
sobretudo
a comer marmelada
(em vez de fazê-la)



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

P de Portugal

Hoje o saco das compras onde eu carregava demasiadas coisas rompeu-se 
(estava-se mesmo a ver)
Nem tive tempo para me irritar com a Jerónimo Martins ou outros Ps deste país 
Que uma rapariga aninhou-se logo ao meu lado a apanhar iogurtes
e uma velhinha veio-me oferecer um saco
Está limpinho, menina, pode aceitar.