terça-feira, 28 de julho de 2009

O Minho

"Vila Nova de Famalicão, 1 de Janeiro de 1889

EXPEDIENTE

Tomamos a liberdade de enviar o nosso jornal a muitos cavalheiros, sem previamente os consultarmos, na convicção de que aquelles a quem nos dirigimos se dignarão acceita-lo benevolamente.
Se algum d´elles, porem, entender que «O Minho» não merece a sua valiosissima protecção, rogamos-lhe a especial fineza de nol-o devolver antes da proxima terça feira, afim de regularisarmos a nossa escripturação. (...)

POUCAS PALAVRAS

Por uma ordem social, hoje declarada com transito de irrevogabilidade, todo o homem, desde que assenta banca na vida publica, tem que abrir aos outros o seu caderno de profissão de fé. A descer das cadeiras mais elevadas até ao banquito mais raso e mais humilde, a magestade, o governo, o parlamentar, o magistrado judicial, o cathedratico, o padre e o professor teem como primeiro dever a apresentação d´um programma.
Aquelle que entra na vida publica sem dizer aos outros o que vae fazer, desobedece às regras respeitosas da praxe. Se não programatisa è um inchoerente e um nescio.
O programa, hoje em dia, é como que um dos maiores sacramentos da humanidade. Se não data da perigrinação do Christo, vem porventura de muito próximo d´então. Foi estabelecido como uma linha de conducta para que, quando lhe desobedeçamos nos possam apontar o erro.

(...)
Não tememos nem por sonhos, que espiritos maus nos venham tolher a carreira da mais absoluta imparcialidade, nem que segredistas de chantage nos façam conduzir ao caminho do estivo e insolente. Temos uma vontade bastante firme para que possa ser quebrada por qualquer polichinelo, ou pelo maior dos azedumes.

(...)
N´este logar pouco nos importa que a pilotagem da barca do paiz esteja entregue nas mãos da regeneração ou dos progressistas, e, o que somente desejamos é que uns ou outros lhe deem direcção proveitosa e segura.

(...)
Nada mais nos resta. Fica a nossa bandeira desfraldada e nós promptos a acolher sob ella todos os combatentes.

A Redacção»

O Minho- Semanário litterario e noticioso
Redactores: Rodrigo Terroso e Joaquim Trovisqueira.

Cortesia da Biblioteca Nacional de Portugal

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Planos outonais

Hoje descobri que vou deixar os reumáticos palindrómicos ao cair da folha.
Visto o escafandro e serei gripista.
Num contentor perto de si.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Morrinhices

Num dia morrinhento que nem é verão nem é nada deixamo-nos pelo sofá, comemos quadrados de melancia de tédio, entretemo-nos com limpezas digitais e praticamos sentimentalismos no ciberespaço.
O meu pecado capital é infelizmente a preguiça.
Fui. Comprar um disco vagaroso.
(histórias tristes em que contudo não haja menção a braços quebrados à volta do seu amor)
A minha penitência pela música.

A autêntica estação

"É Verão. Vou pela estrada de sintra
por sinal pouco misteriosa à luz do dia
ao volante de um carro que não é um chevrolet
e nesse ponto apenas se perdeu a profecia
Não há luar nem sou um pálido poeta
que finja fingir a sua mais profunda emoção
Chove uma chuva que me molha os olhos
e me leva a sentir as saudades do inverno. Talvez lá faça sol
e eu sinta aflitivas saudades do verão:
uma estação na outra é a autêntica estação."

Ruy Belo

Está deste jeito o nosso Verão.
Para L.
intelectual,
a ver se voltas
de Chevrolet à terra ou então
à montanha ciberneticamente.

Abdicação

"Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

(...)

Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada?

Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio."

Ricardo Reis, Poesia

Delete. Reset. Abdica.
Colhemos os frutos e temos as mãos vazias.
E um dia olhamo-nos com olhares cheios de nada.

terça-feira, 21 de julho de 2009

On the road


Julho de 1978

domingo, 19 de julho de 2009

Vendaval em Lisboa

A máquina de café dá horas tardias a amigos confusos.
As nuvens passam pela clarabóia e dão luzes e sombras que se espiam dos lençóis.
Os passos apressados na calçada da Avenida à saída da matiné fogem do vento que levanta a saia.
- Quantos queres?
As nódoas de Super-pêssego no vestido estouvado lembram que nos fizemos na infância.
- Quantos queres?
Lisboa tem jogos de sombras no passeio que valem mais que as buzinas.
Mas não se ouvem as gaivotas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Caos caseiro

Está provado.
Não sou fada do lar.
Desligo a máquina e
as minhas calças brancas,
pólos às riscas
e batas do ofício.
Mudaram de cor.
O meu vestido novo, de flores rosa.
Tudo tingido.
Azul celeste.
(Quando passar a irritação
Lembrar-me-ei de
teres dito que
desboto sobre os outros).
E seria isto uma metáfora.
Bastante caseira...

A par disso, o blog tem cores novas. Pinceladas de Verão.

Hora da refeição

Assumidamente declarada assim
Frutívora de Verão.
Abraçando a energia da época talvez
Homenívora tele-estival.

Predadores são presas fáceis?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Provérbio a jeito

Da ignorância zombeteira de uma sexagenária escavacada que dormiu mal porque se encontrava pensativa.
E sorriu ostentando um dente escuro e solitário. Bastante provocativo.
Nessa boca quase lisa vale a máxima antes só que mal acompanhado.
Ou não?

Ar de mar

"Que somos nós? Navios que passam um pelo outro na noite,
Cada um a vida das linhas das vigias iluminadas
E cada um sabendo do outro só que há vida lá dentro e mais nada."

Álvaro de Campos

Num ímpeto, resolveram-se. Agora que somos pessoas um para o outro, vamos. Partilhar vidas.

Cartas de amor

" 15-8-1920
Domingo

Víbora:
Recebi a tua carta má e, na verdade, não percebo como foi que não nos encontrámos nem ontem nem antes de ontem. Diferença de relógios? Não creio, porque não notei, quer num dia, quer noutro, ao chegar à Baixa, que o meu relógio estivesse tão errado.
(...)
Em todo o caso esperar-te-ei até às 12 1/4.
Sempre e muito teu
Fernando"

Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz

Em todo o caso,
homens e mulheres não se regem pelo mesmo tempo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ambivalente

A separação é sempre difícil, eu sei, mas se não há nada comum entre nós, não faz sentido continuarmos juntos, diz ele.E então ela esfrega-lhe a perna por baixo da mesa nos genitais. E num atropelamento, ele lembra-se afinal.
Que ambos gostam muito de comida indiana.

(era uma espécie de poema que ouvi na rádio e era quase assim)

Juno

A mulher de Júpiter e rainha dos deuses.
You´re a part time lover and a full time friend.
Tom pueril de frase certeira.
Amor será ter tanto e tão pouco?