quarta-feira, 30 de junho de 2010

Midi

No ovo estrelado
reavivo a minha infância
ao Domingo
a pergunta
Quantos queres?

Eu quero no meu enterro
amigos em azul marinho
recitando nobre prosa
música solene tocando.

Os meus cães uivando
Gatos enrolados e alheios
Quero flores silvestres
em esquife humilde.

E enquanto se projecta
a minha morte
O som ritmado e metálico
do vizinho aparando as unhas.

Eu quero as minhas cinzas
revolvendo a terra
Do que resta de mim
há-de brotar uma árvore.

E ovos?
Quero um.

Detergências

Enterros
partos
famílias
operações
doenças
revistos à portuguesa
o mesmo Tide
lava mais preto

Adília Lopes, Obra.

(resta-nos a esperança
de encontrar ainda Omo,
que sempre
lava mais branco)

God is a word

Deus trino
Deus uno
Deus abstracto
Deus concreto
Deus geométrico
Deus figurativo
o triângulo é figura
e a figura é círculo
e Deus centro de mesa

Adília Lopes, Obra.

and the argument ends there.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A partida

Ou À partida

Perto do Coração Selvagem e entre as valises de G.H.
Mira-me o Big Sur inacabado da mesinha-de-cabeceira
Atestando como verdade fundamental
Vão-se os homens, ficam os livros.

Requiem

José, que indelicadeza.
Brincam com a minha memória.
E idolatram-te no facebook.
Eu não sabia desse transtorno.
Os mortos são-nos usurpados.

Todos os nomes

Ou A lei da vida

A octagenária vivaça
de cabelo empoado
sacode de pó-de-arroz
o sexo engelhado.

Não se empoará o sexo
às Cátias e Veras Mónicas
que lhes vedaram o envelhecer
as Gertrudes e as Joaquinas.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eucaliptofacientes

Dr. Bayard vou-me suicidar com Vicks
viver é sobreviver a uma criança constipada
a Aspirina não cura as dores da alma
a literatura inclusa não basta
ingerirei também rebuçados do Dr. Bentes
e pastilhas Valda

Adília Lopes, Obra.