domingo, 27 de janeiro de 2013

Aviso à navegação

Ele passa-lhe o braço à volta do pescoço, vira-lhe a cara
e saca-lhe um beijo.
Ela estrebucha mas sucumbe
a tão urgente linguado.

(limpa a boca com a mão no final
em gesto de protesto
ou de satisfação)

O amor é lindo.

(relato de episódio recorrente na avenida central
entre a rua das prostitutas
e o hotel de luxo)
 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Un par

La vida es eso niño
Lo diga yo o cualquiera
Que pase por tu vida
La vida es eso insisto

Hay un lote de infelices
Y un par de listos

La muerte es eso creo
No importa quien lo dude
Acaso alguien regresa
La muerte es eso canto

Cien ventanas en tinieblas
Y un par no tanto

Ves la fugaz melodía que ocupa mi voz
Yo soy apenas su estela, su brillo de paso
Su motivo de siempre, buscar emoción

Mi destino es canción, y es fugaz por si acaso
Y es fugaz por si acaso.


Fernando Cabrera, músico uruguaio

Dor de junta

Hoje chovia, caí e rasguei as calças.
Previsivelmente, lateja e dói o meu joelho.
Antes dor de joelho que dor de cotovelo.

Antecipando o engodo de acordo ortográfico
 unificador
(ou imbecil)
posso dizer que me dói a junta?

Ou por isso mesmo

Quando o meu Tio ficou doente, encontrei uns versos da Sophia de Mello Breyner que recortei e guardei.
Na altura, tal como agora, eu não era muito conhecedora da sua poesia.
Desinteressava-me a ideia de uma pureza helénica, uma poesia de elevação e métrica que achava rígida para as minhas ideias de liberdade de expressão.
Há pouco tempo reencontrei esse recorte.

Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.


Este é o meu caminho.