Em defesa da ética ou do género, eu argumento.
- Não é justo. Estás a dar-lhe esperanças.
- Olha. Se dei, já lhas tirei todas.
Homens.
Uns básicos.
Outros práticos.
domingo, 19 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Da resistência
Do quarto escuro salvava-me a Joaquina pela janela do terraço
da malvadeza e sesta à força das Ermelindas.
A máquina de secar tinha a tampa partida pela gordura
e preguiça da Ermelinda de bata preta que era viúva.
Depois do almoço eu soltava o novelo do cabelo grisalho da Joaquina
Fazia-lhe tranças e dizia Ficas assim agora, estás mais bonita.
E das aulas ensinava-lhe o abecedário e marcava TPCs que ela fingia
esquecer mas sem ler ou escrever nunca se enganou nos números.
Enquanto isso do outro lado não resistem já os vietcongs mas
sofrem ainda os tibetanos e nós estamos ainda por vezes
entre muralhas.
da malvadeza e sesta à força das Ermelindas.
A máquina de secar tinha a tampa partida pela gordura
e preguiça da Ermelinda de bata preta que era viúva.
Depois do almoço eu soltava o novelo do cabelo grisalho da Joaquina
Fazia-lhe tranças e dizia Ficas assim agora, estás mais bonita.
E das aulas ensinava-lhe o abecedário e marcava TPCs que ela fingia
esquecer mas sem ler ou escrever nunca se enganou nos números.
Enquanto isso do outro lado não resistem já os vietcongs mas
sofrem ainda os tibetanos e nós estamos ainda por vezes
entre muralhas.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Lição doméstica nº1
Se te dizem que a pescada é para cozer.
Coze-a. Não inventes.
Cada um é para o que nasce.
(ou para o que morre)
Coze-a. Não inventes.
Cada um é para o que nasce.
(ou para o que morre)
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Das palavras
Tabucchi fala de O´Neill, amigo, e como se conheceram. *
O Alexandre estava sentado à mesa de sua casa e almoçava sozinho, seu lugar único na mesa posto a rigor.
Dentro do prato havia uma lata de sardinhas.
Ele comia sardinhas de uma lata dentro do prato. Eu aproximei-me e ele perguntou:
- Queres provar sardinhas decapitadas?
(e para Tabucchi foi este o princípio de um grande entendimento)
* em Tomai lá do O´Neill, de Fernando Lopes, foi qualquer coisa assim.
O Alexandre estava sentado à mesa de sua casa e almoçava sozinho, seu lugar único na mesa posto a rigor.
Dentro do prato havia uma lata de sardinhas.
Ele comia sardinhas de uma lata dentro do prato. Eu aproximei-me e ele perguntou:
- Queres provar sardinhas decapitadas?
(e para Tabucchi foi este o princípio de um grande entendimento)
* em Tomai lá do O´Neill, de Fernando Lopes, foi qualquer coisa assim.
Provérbio do quotidiano
Não cuspas para o ar nem digas
jamais a nada e nem sequer
a uma estúpida franja que
mais dia menos dia ela pode
cair-te na testa.
jamais a nada e nem sequer
a uma estúpida franja que
mais dia menos dia ela pode
cair-te na testa.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Questão de família
Ao telefone falamos da terra, das eleições, do jantar e de vernizes.
E tu que agora até está na moda pintar uma unha de cada cor.
E que está na moda mas fora de questão, não queres parecer uma Barbie geriátrica.
E tu que agora até está na moda pintar uma unha de cada cor.
E que está na moda mas fora de questão, não queres parecer uma Barbie geriátrica.
Uma razão
Casara certo indivíduo, cego de um olho, com uma guapa rapariga, que julgava honrada, mas que infelizmente -para ele- já não tinha os três vinténs.
Resultou de tal descoberta acalorada discussão, e a moça, não podendo ocultar a perda, disse-lhe por fim:
- Parece-te que, apesar de semelhante falta, valho menos que tu, com um olho de menos?
- Mas este defeito foi resultado por uma queda, quando era pequeno...
- E o meu por uma foda, quando já era crescida...
em O pauzinho do matrimónio, almanaque perpétuo, ilustrado por Rafael Bordalo Pinheiro.
Resultou de tal descoberta acalorada discussão, e a moça, não podendo ocultar a perda, disse-lhe por fim:
- Parece-te que, apesar de semelhante falta, valho menos que tu, com um olho de menos?
- Mas este defeito foi resultado por uma queda, quando era pequeno...
- E o meu por uma foda, quando já era crescida...
em O pauzinho do matrimónio, almanaque perpétuo, ilustrado por Rafael Bordalo Pinheiro.
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