sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Contingências do verbo II

Ou o que se ganha na tradução.
Pelo feminino, masculino, o neutro
e demais declinações das língua eslavas.
À procura de J, indaga L:
- Sabe dá paradeira dela?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A importância

"É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Com isso ninguém tem nada
Mas mesmo nada
A ver.

O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar andar
Para depois se sumir
E dar vontade de rir e d´ir urinar."

Mário Cesariny

A importância
do surrealismo.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Certa conditio moriendi

"Os poetas todos fitaram a morte
e reuniram-se depois numa assembleia de riso
para esquecer quem eram
Mas era a morte a única saída"

Ruy Belo

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Amor elefante

|na selva,
fôssemos bichos|

Seríamos paquidermes vivendo um amor desastrado, nédio e fiel.
E se morresses acarinhava as tuas ossadas com murcha tromba.

Contingências do verbo

F. confere adiamento ao convite para café.
K. é estrangeiro, não domina o português.
Dirá Esposo por ti.
Nervosamente, reage F. indelicada.
Ver-se assim já desposada,
ainda antes do primeiro encontro?

domingo, 17 de janeiro de 2010

Humor em tempos de crise

ou O Combate à Turbulência Sentimental

Diria.
Haverá sempre amor no meu riso.
Prometia.
Seremos profundamente felizes
Ouvindo músicas tristes.
Reforçava.
No meu silêncio.
(em vez de
gigantes
ou
crocodilos)
Há apenas silêncio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

The love song of J. Alfred Prufrock

"And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.

(...)

And indeed there will be time
To wonder, ´Do I dare?` and, ´Do I dare?`
(...)
Do I dare
Disturb the universe?
In a minute there is time
For decisions and revisions which a minute will reverse."

T. S. Eliot

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O vermelho e o verde

(por oposição aO Vermelho e o Negro?)

"- De que cor é o vermelho?
- É verde.

- Quem é o teu pai?
- É o revisor do comboio para a lua.

- O que é a loucura?
- É um braço solitário sorrindo para os meninos.

- Quem é Deus?
- É um vendedor de gravatas.
- Como é a cara dele?
- É bicuda, com uma maçaneta na ponta."

João Artur Silva, Mário Henrique Leiria, Antologia do Cadáver Esquisito (organização de M. Cesariny)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O ano do gato

Se para o gato não existem comemorações
apenas restos de badanas na véspera
tiras de perú na consoada
Se para o gato apenas há
o dormir em novelo no Inverno
os miados lânguidos de Fevereiro
e o instinto da procriação do Maio
Aqui se proclama:
Dois mil e dez será o ano do gato.