domingo, 2 de janeiro de 2011

As gavetas

Arrumámos o passado
engelhado
em gavetas de ternura
que não chegámos a trancar

E entre os sacos de alfazema
e as cuecas velhas
havia ainda alguns abraços e
palmadinhas nas costas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"

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