quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cenas familiares

Ou Come a papa, pequeno, come a papa

Quando eu era pequena, detestava comer.
Qualquer coisa que não fosse arroz branco, ovo estrelado ou bife grelhado estava fora do cardápio.
Detestava sopa, claro.
Sobre as cenas de que era capaz para não comer, há histórias lastimáveis a contar:
Longe da censura materna, escondi-me com a minha prima debaixo da mesa num jantar formal sob condição de só voltar ao meu lugar quando me trouxessem ovos.
A minha Mãe teve sempre uma paciência enorme com a minha anorexia:
Levava-me para o quintal, sentava-me junto às árvores e distraía-me com as histórias da formiguinha rabina, com o cão e os gatos.
De guardanapo ao pescoço, eu comia tudo.
Lembro-me perfeitamente da minha Mãe me meter a comida na boca. Já não seria assim tão pequena.
Vergonhoso, eu sei.

No andar de cima,  é a hora da refeição.
Não! Não! Come! Co-mmme! Mastiga! Mastiga! Mastiga!
O miúdo chora baixinho e depois, enervado, vai subindo o tom.

(quando tiver filhos
espero ter um tico da paciência que teve a minha Mãe
para me poupar a dramas destes)

2 comentários:

Anónimo disse...

sem saber sei-o.

tens a doçura da tua Mãe.


m

Geor disse...

saudades tuas e... (continuo via mail)