Tantos pintores
A realidade comovida agradece
mas fica no mesmo sítio
(daqui ninguém me tira)
chamado paisagem
Tantos escritores
A realidade comovida agradece
E continua a fazer o seu frio
Sobre bairros inteiros, na cidade, e algures
Tantos mortos no rio
A realidade comovida agradece
porque sabe que foi por ela o sacrifício
mas não agradece muito
Ela sabe que os pintores
os escritores
e quem morre
não gosta da realidade
querem-na para um bocado
não se lhe chegam muito pode sufocar
Só o velho moinho do acordeon da esquina
rodando a manivela da trabuqueta
sem mesura sem fim e sem verdade
dá voltas à solidão da realidade
Mário Cesariny
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2 comentários:
A solidão somente.
A solidão só, mente.
Mesa para dois Sff.
Joel
"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites
não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."
david mourão-ferreira
palavras de outros nos meus lábios
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