sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Isto não é um conto

O rapaz do brinco na orelha acerta as margens das fotografias.
São fotografias de casamento, para cima de cem.
Distraiu-se e guilhotinou os noivos.
Bem feito. Já ninguém se casa.

Animada, ela escolhe fotografias para impressão rápida.
E de momento invejo-a um pouco.
Não sendo feia nem bonita, ganha pontos porque é simpática.
Nossa, tá bé-lê-za.

Esbarro na estante com A Flor do Deserto.
Partilhámos a tristeza de não ter um livro decente.
Agradecia-te a gentileza ao chamar-me.
Adormeceste, podes-te queimar.

E volto a casa com dois livros.
Diário de um Homem Supérfluo.
A lua passou a quarto crescente. Há três buracos no pano estendido.
E Isto não é um conto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Queimam-se constantemente.
Percorrem trilhos de lama, partilham a pele, cruzam os suspiros, devoram a vontade de se casar. Inesperadamente estão de costas, voltados para linhas desviadas.
Aí, não se pertence.
Não se é em ninguém.

A folha seca no parapeito da janela em pleno Verão, esteve sem ser vista com olhos de ver. Agora deixou.

Não. É-se em alguém.
A corda folgou, dá para sair. Soltou-se. Saiu.
As linhas agora não perseguem, contudo prosseguem.