sábado, 9 de maio de 2009

Na curva do horizonte

"A RAPARIGA Fica. Voltará a noite.
O VIAJANTE Vou de viagem. Não sei se chegarei, mas não posso deixar de partir.
CORO I Porque não páras?
CORO II Porque não páras?
O VIAJANTE Não vale a pena ficar sempre no mesmo sítio.
A RAPARIGA Nem quando é belo?
O VIAJANTE Nunca.
CORO I Nunca?
CORO II Nunca?

COROS I e II Mas esta noite houve qualquer coisa diferente.
O VIAJANTE Havia menos estrelas.
COROS I e II Não. Era a lua que brilhava mais.
A RAPARIGA E o meu corpo era um espelho.
CORO I Fica. Voltará a noite.
CORO II Voltará a noite.

Pausa

O VIAJANTE Tenho de andar mais.
CORO I Mas estás triste.
CORO II Estás triste.
O VIAJANTE O horizonte é uma curva.
CORO I E depois?
CORO II E depois?"

Fiama Hasse Pais Brandão, Em cada pedra um voo imóvel.

(Na curva do horizonte
andemos devagar
por causa dos enjoos)
E depois?

1 comentário:

m disse...

uma fez fiquei zangada.

fui acusada. disfarçadamente. injustamente.

de não ter em mim a ânsia de cruzar ininterruptamente a curva do horizonte. faltava me a destimidez.
senti-me diminuída. pequena.
por não ter grandezas de vento que se espalha eternamente na curva do horizonte.

sou mais de ir para voltar.

mas para mim todas as esquinas ao meu redor têm quantas curvas de horizonte quantas eu consigo imaginar.

e assim viajo com retorno.

pelo meu mundo inteiro, imenso e interminável e que cabe na palma da minha mão.

já não estou zangada. sei-me e não tenho que provar nada a ninguém.

m