domingo, 2 de agosto de 2009

Tributo

A Hans Castorp

Quando finalmente desceste da montanha.
Quando, sendo engenheiro,
Sem muito brilho, sem muito mérito
finalmente engenhaste.
Navios. Uma frota inteira.

Que uma compatriota de gargalhada fácil
malares ardentes e bastante sã
(os tributos de uma boa esposa)
te aconchegue as incertezas
com bons repastos
e uma aceitável prole.
Que estejas nédio mas regrado
(Não gostaria que sucumbisses
demasiado cedo
a uma apoplexia).

Que à janela no Inverno
assome em ti
o fantasma amigável
dum tocador de realejo
de alma escorreita
punhos coçados
e espírito humanista.

Que ainda à hora do repouso
Ao escutar música
fumando um Maria Mancini
sejas tomado de um estremecimento
de ar assim um pouco asnático.

E não tenhas de todo esquecido
uns certos braços roliços
um olhar transviado
do Cáucaso profundo
e uma antiga tentativa de
conversação francesa.

Que no fundo de ti
guardes ainda um pouco
de menino mimado da Vida
de joli bourgeois à la petite tache humide.
(mas que não te perturbem
excessivamente
essas lembranças)

Nem te desviem
da reaclimatação
Ao teu destino
de bom pai de família
e hamburguês respeitável.

"- Dis donc, qu´est-ce que tu penses de moi?
- C´est un sujet qui ne donne pas beaucoup à penser. Tu es un petit bonhomme convenable, de bonne famille, d´une tenue appétissante, disciple docile de ses précepteurs, et qui retournera bientôt dans les plaines, pour oublier complètement qu´il a jamais parlé en rêve ici et pour aider à rendre son pays grand et puissant par son travail honnête sur le chantier. Voilà ta photographie intime, faite sans appareil. Tu la trouves exacte, j´espère?"

--
Faz um ano que nasceu a semente deste diário da montanha.
Quando também em mim existiu uma pequena mancha húmida.

Este postal é um tributo a Thomas Mann e à Montanha Mágica, que inspirou a sua criação.

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