domingo, 2 de agosto de 2009

Take the A train

Um dia escapamos.
A esta crise.
Do delírio de acharmos
todos estão bem.
à realidade do cliché
estamos mal.
-É da idade.

Deixa-me guardar a tua memória.
Um dia embebedei-te
no terraço com vinho rosado.

-Eu disse
Fiz-te um funeral na minha cabeça.
Tiveste sorte. Fui simpática.
Acho que nunca terás um igual.
e eu calada. Na minha cabeça
(porque também sou muito visual)
Dos teus caracóis nasceram flores
uma viúva alegre.
Na minha cabeça
Dress sexy at my funeral, my good wife.

Um dia escapamos.
E dançamos Duke Ellington.
Às escuras numa sala vazia.
Sem sapatos
(claro)
Haverá um dedo simbólico
que aponta.

E partilhamos mais que os cigarros
que acendi para ti.
Partilhamos a crise
dos peritrinta.

De perdermos o entusiasmo
a esperança
da passagem
do passageiro
a insónia.
De não acreditarmos
em reencontros
e em nada.

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