segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Memorabilia

As xícaras do café da minha infância eram transparentes e com uns lapidados.
Em alguns jantares da intimidade familiar, o meu Tio repousava na mesa a enxaqueca ou o peso da vida a seguir ao café. O meu Tio era agnóstico - depois talvez ateu, até queria uma cerimónia fúnebre não religiosa como o Prado Coelho e não teve - mas nestas alturas repetia ai meu deus, ai meu deus.
Um dia, encontrei as xícaras da minha infância numa loja de segunda mão. Servi-me o café e repousei o peso da enxaqueca ou dos caracóis sobre a mesa. Só não disse ai meu deus, ai meu deus.

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