quarta-feira, 8 de abril de 2009

Parabéns

Fizeste anos e eu lembrei-me de nós.

Quando foste uma fada, vestida de branco e de varinha em riste e eu de punk, a levantar-te a saia.
Quando achava que ser punk era vestir-me de gangas com os óculos de sol da minha Mãe.
E lábios às cores.
Vermelho e preto.

Quanto tempo já passou desde que te obriguei a ir correr no parque de raquete em punho?
Atrás de rapazes.

Lembrei-me de nós.

Quando tu só sabias assobiar ao contrário.
Para dentro.

(Hoje assobiamos no escuro)

Eu a queixar-me de não gostares de gatos.
E tu, anos depois, a co-habitar.

- Mas se elas fugirem, nem penses que pego nelas.

Do teu livro preferido:
- Ariana, rapariga russa.


O teu passatempo inconfessável aos 8 anos:
-Passar a ferro.

E que já gostaste de novelas venezuelas dobradas.
- Estrelinha, a pobre coitada que cegou.

Lembrei-me de nós agora.

Eu em cinzentos.
Desintegrações cíclicas mensais.
Tu mais preto e branco.

- Massa com atum.
Na cozinha.

Dos ajustes da amizade:
- Eu aprendo a emprestar livros se tu aprenderes a emprestar filmes.

O teu risinho mordaz.
-Precisas de um harém?

O nosso riso junto quando me declarei:
- Em fase pró-homem.

Lembrei-me de ti adolescente enlevada.
Em Paris, à procura da rua onde o Jean-Paul Belmondo foi assassinado com um tiro no fundo das costas.
À queima-roupa.

- Aquela conversa de cama é maravilhosa.

Teremos tempo para chegar aos sete amantes?
Um dia vamos ter uma conversa igual.

Entretanto, tens sempre os meus chás de tudo.
Trazes-me supremas de chocolate?

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