sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As mesmas saudades

Para I

Na nossa infância, havia piqueniques à chuva com petiscos na mala velha e nós encarrapitadas no muro de guarda-chuva na ramada. Saltávamos os telhados atrás de gatos e houve aquela vez em que tinhas a perna partida e fugimos do vizinho a toda a pressa, tu partindo todas as telhas com o pé coxinho. Pelo valgismo fisiológico e que nunca desapareceu, não escapou um dia em que não tropeçasse sem esfolar os joelhos quando te visitava. Na tarde em que estivemos a brincar no tanque onde morreu o teu cachorro afogado quando aparecêmos nuas e enlameadas levámos palmada no rabo e nunca soubemos onde deixámos as cuecas e o resto da roupa. Lembro-me que foi antes de entrar na sala que te perguntei se eras boa aluna, tu disseste mais ou menos embaraçada e não sei se foi aí que eu percebi ou se essa imagem ficou guardada até mais tarde. Porque eu achei sempre que tu eras a maior do pedaço e quem eu mais admirava. A ponto de sem nunca ter dado um beijo sequer anunciar alto e bom som repetindo o que dizias que o que eu queria era curtir porque namorar era para parvos. E com tudo o que nos separou há toda a loucura do sangue que nos une e eu agora entendo a tua insegurança mas no fundo ainda acho que és a maior do pedaço. Ou então da minha rua.

1 comentário:

Anónimo disse...

elogio

m