quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tratado da República

Nós queríamos um apartamento e pelo anúncio chegámos ao prédio fininho da praça. Quem nos mostrou foi a mãe da rapariga, que ela estava a fazer um doutoramento fora. Havia pouca luz nas escadas e ao sairmos do elevador a porta encostava na parede. Não sei como soube que a rapariga escrevia poemas e até um livro. Os livros dela estavam atados em pilhas. Havia Faulkner e um boneco chorão manchado no corpo de pano. No quarto só cabia a cama e a cortina era escura de feltro. Não sei se soube mas ela era branca e gorda. Não era nem feia nem bonita. E por isso podia permitir-se um interior intricado sem que fossem coisas a mais. Ela fotografou a praça da janela. Foi amável no email que trocámos. Disse com saudade. A minha praça. E para mim a praça foi sempre a imagem da desolação. A praça da República.

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